Fortaleza é a cidade da imobilidade, do engarrafamento e da superlotação

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Criação de faixas exclusivas para ônibus, sentido único, túneis, viadutos, corredores de ônibus exclusivos, unificação das vans, metrôs e BRTs, seriam alguma das soluções apontadas como forma de resolver este problema da cidade.

Por: Douglas Pinto, Marcella de Lima, Raphael Moura e Samuel Asafe

(Engarrafamento na Avenida Leste Oeste, próximo ao Centro Cultural Dragão do Mar - Foto: Raphael Moura)

(Engarrafamento na Avenida Leste Oeste, próximo ao Centro Cultural Dragão do Mar – Foto: Raphael Moura)

Estresse, nervosismo, ansiedade, calor, angústia, raiva, medo, “encoxamentos”, empurrões, brigas, correrias e alvoroços. É assim que vive a quinta maior capital do Brasil e a segunda do Nordeste. Fortaleza, hoje, conta com aproximadamente 2,57 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE, e quem mora na cidade sabe bem o que são todos esses problemas relacionados ao trânsito, como também às superlotações dos transportes coletivos.

Milhares de carros, ônibus, motos, vans, caminhões saem de seu local de origem, com destino às ruas da Capital Cearense. Assim como São Paulo, Fortaleza sofre, diariamente, com os problemas de congestionamentos no trânsito, que se formam, principalmente, nos horários de pico semanal, entre 6h e 8h, e entre 17h e 19h.

(Filas e superlotação no Terminal do Papicu - Foto: Raphael Moura)

(Filas e superlotação no Terminal do Papicu – Foto: Raphael Moura)

Foi visando combater e diminuir o “inchaço” de carros, principalmente nos horários de pico, que a Prefeitura de Fortaleza resolveu fazer uma “transformação” na cidade, promovendo o transporte público, criando faixas exclusivas para ônibus, reformando as avenidas Santos Dumont e Dom Luís para sentido único, construindo corredores de ônibus exclusivos na avenida Bezerra de Menezes, além dos viadutos na avenida Engenheiro Santana Júnior (Cocó), para uma melhor fluidez no trânsito.

Transformações que afetam a rotina do Fortalezense

Sobre implantação das faixas exclusivas em Fortaleza, o engenheiro civil Ezequiel Dantas, técnico do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito de Fortaleza (Paitt), explica que deixar metade da faixa de trânsito para o coletivo e metade para o individual não seria injusto. Para ele, essa criação teve por objetivo dividir o restante da margem de 40% a 45% entre os automóveis e os veículos não motorizados, estes por sua vez, utilizados em deslocamento na cidade. Até julho de 2015, a Prefeitura promete criar mais 122km de faixas exclusivas para ônibus.

(Faixa exclusiva para ônibus na Avenida Santos Dumont - Foto: Raphael Moura)

(Faixa exclusiva para ônibus na Avenida Santos Dumont – Foto: Raphael Moura)

Segundo o músico Marcelo Dourado, que trafega de carro semanalmente pelo novo binário Santos Dumont e Dom Luís, a criação das faixas exclusivas para ônibus não é suficiente. “O que percebo é que, o problema na via principal foi resolvido. Já nas vias secundárias não. A fluidez do carros acontecem na principal, normalmente, mas as ruas paralelas continuam engarrafadas”, declarou.

Apesar da construção dos viadutos na avenida Engenheiro Santana Júnior, muitos motoristas ainda reclamam dos transtornos da obra, que foi liberada ao tráfego mesmo ainda em fase de conclusão. Quem passa por lá todos os dias, percebe a falta de sinalização horizontal e os canteiros centrais em fase de acabamento. Além disso, a iluminação instalada nas laterais dos viadutos está causando desconforto para os motoristas, devido à intensidade muito forte, na altura dos olhos.

Em meio ao caos, a Prefeitura mobilizou orientadores e agentes de trânsito ao local, como forma de garantir mais segurança aos motoristas que trafegam por lá. Segundo o secretário de Infraestrutura do município de Fortaleza, Samuel Dias, a iluminação e a sinalização, em torno dos viadutos do cocó, serão concluídos até o fim de novembro.

Confira a matéria feita pela TV Diário na íntegra.

Outra medida adotada foi a criação de mão única nas avenidas Dom Luís e Santos Dumont, com o objetivo de melhorar o trânsito e a fluidez do transporte público na cidade. “Estamos trabalhando com oito cenários possíveis. Temos equipes em campo fazendo medições e avaliações, verificando fluxo de carros e fotografando. Todas essas informações serão analisadas por um software, que nos mostrará as melhores alternativas para favorecer o trânsito”, é o que explica Luiz Alberto Saboia, coordenador do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito (Paitt), em entrevista ao portal de notícias G1 Ceará.

Já na Avenida Bezerra de Menezes, um corredor exclusivo para ônibus está sendo construído. O objetivo é facilitar o deslocamento dos usuários que realizam o percurso de 8,2 quilômetros do Terminal do Antônio Bezerra ao centro da Cidade. Segundo o presidente da Etufor, Antônio Ferreira, o corredor deverá ser implantado, pela Prefeitura, até o final de novembro e início de dezembro deste ano.

Este será feito por ônibus articulados, que contarão com 11 estações exclusivas na sua primeira fase do projeto. Serão implantadas dez na Avenida Bezerra de Menezes e, a partir de estudos realizados, será incluída mais uma em frente ao mercado São Sebastião.

Clique aqui e confira a maquete das estações Bezerra de Menezes – Corredor Antônio Bezerra Centro.

(Imagens meramente ilustrativas - Google Imagens)

(Imagens meramente ilustrativas – Google Imagens)

Com essa nova construção sendo realizada, a agilidade para embarque e desembarque de passageiros nos coletivos será mais rápida, pois as estações terão pisos elevados. Para Samuel Dias, a previsão é aumentar a velocidade dos ônibus em 40%.

Durante a fase inicial de implantação, o corredor contará com a circulação de oito novos ônibus articulados que trafegarão somente por lá. Estes, por sua vez, ganharão ar condicionado e capacidade para abrigar 150 passageiros, incluindo, ainda, atributos de conforto como, a suspensão pneumática, o câmbio automático, abertura e fechamento das portas com comando elétrico, entre outros, como afirma Antônio Ferreira.

Para o professor do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade de Fortaleza (Unifor), Marcelo Capasso, essas transformações não devem estar, somente, relacionadas ao tráfego de veículos, mas também à qualidade ambiental, ao nível de serviço dos transportes, e à qualidade resultante da intervenção. “As intervenções urbanísticas têm que ser minimamente integradoras das diversas variáveis da cidade (…) mas para transformar esse tráfego, a gente tem que transformar o modelo de mobilidade”, afirma.

Marcelo ressalta ainda que o Brasil está muito atrasado em relação ao espaço urbano, no sentido de entender e oferecer esse espaço de passagem aos veículos durante o tráfego, assim como nos estacionamentos. Ele destaca que uma alternativa de mobilidade seria o deslocamento a pé, por meio de bicicleta ou metrô.

“A progressão do avanço do congestionamento é, praticamente, muito mais rápida do que das transformações do espaço viário para acompanhá-lo (…) O congestionamento é muito mais uma decorrência do modelo, do que o foco da intervenção”, explica Marcelo. Confira na entrevista.

Superlotações podem gerar problemas de engarrafamentos na Capital

Por quê a unificação das vans não resolveu o problema das superlotações? De fato, será que elas mexem, realmente, com os problemas de engarrafamentos? Será que a quantidade de ônibus insuficiente na Capital fez com que a população adquirisse seu carro próprio, causando aumento no número de veículos? Encontrar respostas para todas essas perguntas não é tarefa fácil. De acordo com Antônio Ferreira, presidente da Etufor, atualmente a cidade de Fortaleza conta com cerca de 1.814 ônibus na cidade, sendo 4.896 pontos de paradas.

(Antônio Ferreira, presidente da Etufor - Foto: Raphael Moura)

(Antônio Ferreira, presidente da Etufor – Foto: Raphael Moura)

Segundo ele, a Prefeitura fez um planejamento de transporte para durar de cinco a 20 anos. “Nós temos toda uma reestruturação do transporte de Fortaleza, com reforma e ampliação em terminais e implantação de corredores exclusivos”, disse.

O professor Marcelo Capasso acredita que a população optou pelo carro, como uma forma de mobilidade, e “ignorou a possibilidade de avançar no sentido de outras ofertas de deslocamento”, tais como os coletivos que sofrem deficiências e superlotações diárias. Confira o áudio da entrevista.

Dentre as principais reclamações listadas pelos entrevistados que utilizam o transporte público na capital estão, as superlotações dentro dos terminais que não são controladas, as freadas bruscas, a imprudência e as músicas colocadas pelos motoristas, bem como a falta de conforto, segurança e a demora dos coletivos, devido a pouca quantidade de ônibus circulando pela capital.

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Vans e ônibus têm trabalho unificado na Capital

Para a população, andar de ônibus ou vans na capital, todos os dias, se torna uma tarefa árdua e estressante.O transporte alternativo, há alguns anos, concorria com os ônibus, mas, desde julho deste ano, a prefeitura unificou o trabalho dos permissionários com o dos motoristas de coletivos. O objetivo desta iniciativa é desafogar ainda mais a lotação nos ônibus e o tempo de espera dos passageiros.

De acordo com a prefeitura, os passageiros recebem a informação sobre as alterações por meio de cartazes nos coletivos, distribuição de panfletos e informativos nos sites e redes sociais da Prefeitura e da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor). “Hoje, o passageiro identifica as linhas do Sistema de Transporte Complementar pelo tipo de veículo, as vans. Mas com a reorganização dessas linhas, eles precisam estar mais atentos aos letreiros que indicam o número e o nome da linha. Outra adaptação é que as vans passam a utilizar os terminais de integração. São mudanças que passaram a mudar a forma de usar o transporte coletivo, mas que são de fácil entendimento para o usuário”, explica Antônio Ferreira.

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(Eugênio Parcelio, permissionário há 12 anos – Foto: Raphael Moura)

Para o motorista e proprietário de van Eugênio Parcelio, o projeto de unificação da prefeitura não gerou vantagens para ninguém que trabalha no ramo. “Eu trabalho nessa área há 12 anos e, antigamente, eu apurava uma média de 30 mil reais por mês. Hoje, eu volto pra casa com apenas 70 reais. É um verdadeiro absurdo! Além de precisar comprar pneus, que só duram três meses, e colocar o mesmo tanto de combustível que sempre coloquei”, ressaltou.

A ação íntegra o Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito (PAITT), e promove a unificação do sistema regular (ônibus) com o complementar (vans). Agora, as vans passam a operar em “linhas alimentadoras”, o que permite a realização de integrações dentro dos Terminais.

Novidade: linha 914 de ônibus passa a circular na Aldeota

A criação da nova linha de ônibus 914 está entre as mudanças anunciadas. Segundo a Prefeitura de Fortaleza, a linha Binário Circular será uma alternativa “rápida e prática” para quem precisar realizar deslocamentos entre as avenidas Dom Luís e Santos Dumont.

(Nova linha vai circular na Aldeota -Foto: Prefeitura de Fortaleza/Divulgação)

(Nova linha vai circular na Aldeota – Foto: Prefeitura de Fortaleza/Divulgação)

Para atrair mais pessoas a utilizarem os ônibus em seus destinos diários e buscar um considerável desafogamento do trânsito em geral, a Prefeitura vai criar novos corredores expressos. As obras estão sob a responsabilidade do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor) e contam com o apoio do Ministério das Cidades, que assegurou um investimento de R$ 715 milhões para o desenrolar das obras.

As novas vias que ajudarão também no tempo de deslocamento, no maior conforto e na segurança do usuário do transporte público estão localizados nas seguintes áreas: BR 116 / Aguanambi, Primeiro Anel Expresso, Perimetral / Juscelino Kubitscheck, Emílio de Menezes / Vital Brasil e Coronel Carvalho / Castelo Branco. As obras fazem parte do plano de implantação de 130 quilômetros de corredores expressos de ônibus.

Conheça como ficará as novas avenidas:

Redimensionamento dos pontos de paradas

Antônio Ferreira alega que os pontos de paradas de ônibus de Fortaleza tiveram de ser redimensionados, devido a eles estarem muito próximos uns dos outros, com cerca de 250 a 300 metros, ao invés de 500 metros de equidistância, como diz o manual técnico de pontos de paradas da Etufor.

“O objetivo do redimensionamento dos pontos de paradas, é exatamente fazer com que o sistema de transporte ganhe velocidade média comercial, uma vez que, as paradas são muito próximas, e isso aumenta o consumo de combustível, porém, mais poluição para a cidade”, explica Antônio Ferreira, presidente da Etufor.

Ele ainda ressalta que, esse redimensionamento não ocorrerá em uma ligação entre bairro – terminal, somente em todos os corredores exclusivos de transporte, como por exemplo, na ligação terminal – terminal e terminal – centro. “Nós estamos colocando um painel com todas as linhas que passam naquele ponto, para que o usuário, principalmente aquele que usa bilhete único, possa fazer a integração, uma vez que, não é necessário que se vá até o terminal para ter o benefício da tarifa única”, afirma.

SAIBA MAIS

O que é o BRT Fortaleza

De acordo com a Seinf, o BRT (Bus Rapid Transit) é um sistema de ônibus que utiliza corredores exclusivos para o transporte público. O novo sistema garante rápido embarque através de rampas, além da utilização de ônibus climatizados articulados e até biarticulados. Nas vias que recebem estes corredores, as calçadas são padronizadas e oferecem maior conforto, segurança e acessibilidade para os pedestres.

(Foto: Fortalbus - Divulgação)

(Foto: Fortalbus – Divulgação)

Com a implantação dos BRTs, a prefeitura irá diminuir o tempo das viagens, os custos do transporte, o tempo de embarque e desembarque dos passageiros, com o objetivo de aumentar a segurança no trânsito. Em todos os corredores expressos de ônibus está previsto o melhoramento, prolongamento e duplicação de vias para formação de eixos viários complementares, padronização do sistema viário principal e formação de rotas alternativas e complementares para o transporte individual, oriundo dos corredores troncais com faixas exclusivas, permitindo a desobstrução dos pontos de estrangulamento do sistema, além de restauração de vias degradadas.

Os novos corredores de ônibus estão entre as principais medidas adotadas pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura, para priorizar o transporte coletivo e a circulação de pedestres e ciclistas na cidade. As obras dos BRTs fazem parte do plano, da Prefeitura de Fortaleza, de implantação dos 130 quilômetros para corredores expressos de ônibus.

Bilhete único garante tempo livre para usuários na Capital

O bilhete único passou a ser utilizado em Fortaleza, desde junho do ano de 2013. Quem deseja pegar quantos ônibus quiser no período de duas horas, em qualquer sentido da cidade, paga apenas uma ou meia passagem, no caso dos estudantes. Com o Bilhete Único, o passageiro fica livre para fazer o embarque e desembarque na parada em que preferir, sem precisar passar por um terminal. Essa vantagem reduz o tempo de viagem, pois o usuários passam a ter mais opções de linhas para pegar.

(Foto: Divulgação)

(Foto: Divulgação)

Segundo Paulo César Vieira, superintendente do Sindiônibus, existem inúmeras vantagens para quem utiliza o bilhete único em Fortaleza.

Metrô: uma obra em construção

Além do uso que a população faz dos transportes públicos, como vans e ônibus, surgiu um outro tipo de modal de deslocamento que promete mais agilidade, conforto e rapidez aos passageiros que utilizarem.O metrô de Fortaleza é composto por três linhas: sul, oeste e leste. Entre as citadas, apenas duas estão em uso. A oeste que liga Fortaleza a Caucaia, e a sul que faz o percurso Fortaleza, Maracanaú e Pacatuba.

A linha Oeste foi a primeira a ser entregue a população. O transporte já está em uso desde 2010, porém a verba destinada para sua construção não foi o suficiente. É por isso que, o Governo Federal irá liberar o valor de 1,2 bilhão a ser investido na melhoria da infraestrutura do trajeto e aquisição de novos trens.

Já o trecho da linha sul do metrô de Fortaleza, entregue em 18 de julho de 2013, conta com 18 estações, totalizando 24 km de percurso.

 (Linha Sul do Metrô de Fortaleza. Foto: Divulgação)

(Linha Sul do Metrô de Fortaleza. Foto: Divulgação)

Apesar de ter sido entregue a seus usuários, no ano passado, o funcionamento do mesmo ainda permanece sendo realizado de forma assistida, menos aos finais de semana. Desta forma, o metrô pode ser usado gratuitamente de oito da manhã ao meio dia.

Diferente das que já estão em uso, a previsão para a linha leste ficar pronta é de no mínimo cinco anos. Estima-se que, após o término, 40 mil usuários farão o percurso Centro e bairro Edson Queiroz, tendo o total de 12,4 km e sendo previsto no valor de 3,5 bilhões de reais.

(Mapa com as linhas do Metrô de Fortaleza. Foto: Divulgação)

(Mapa com as linhas do Metrô de Fortaleza. Foto: Divulgação)

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